O que é Zonação Biogeográfica?
Segundo a Universidade de São Paulo (USP), zonação é a denominação atribuída à distribuição de flora e/ou fauna de uma comunidade ao longo de diferentes zonas, normalmente horizontais. Esta distribuição está dependente de fatores bióticos e abióticos (falando de condições abióticas, estaremos falando de luminosidade, temperatura, balanço de oxigênio, velocidade de correnteza, substrato de fundo, profundidade, etc. Cada um destes fatores irá determinar o tipo de fauna e flora que vive naquele local ocorrendo assim a zonação biogeográfica, ou seja, diversos tipos de zonas de distribuição dos organismos dentro de cada ecossistema específico), estas comunidades possuem características que as tornam distintas de outras, assim como espécies dominantes que caracterizam a comunidade. A variação pode ocorrer em pequena escala (centímetros) ou pode variar em grande escala (quilômetros). Os fatores que restringem a zonação são, por exemplo, a predação, a competição, o grau de exposição aos fatores ambientais, o nível de salinidade, a disponibilidade de alimento, a temperatura e a resistência à falta de água.
A latitude e a longitude são também fatores que contribuem para o surgimento de uma distribuição por zonas. A influência da latitude e longitude, na zonação, é verificada ao serem analisados os padrões de distribuição vegetal no planeta. Esta influência provoca uma distribuição biogeográfica das diferentes espécies vegetais, formando o que se denomina por Biomas. Quanto mais afastado do Equador, menor é a quantidade de indivíduos presentes no ecossistema e quanto mais próximo do equador, maior é a quantidade de espécies presentes. Os ecossistemas mais distantes do Equador caracterizam-se pela presença de espécies herbáceas, enquanto os mais próximos do Equador possuem ecossistemas florestais, exceção feita para os ecossistemas desérticos.
Em 1961, Illies, descreveu uma zonação de organismos para as regiões da Europa Central. Os principais fatores que influenciam na distribuição dos organismos, em dependência de altitude e latitude, são a temperatura da água e sua amplitude anual, o teor de oxigênio, a velocidade da água e a granulometria do leito. O tipo de zonação efetuado de acordo com a comunidade de peixes, apresenta-se da seguinte forma:
1 - Região da Truta (Salmo trutta f. fario): água clara, fria, com alta concentração de oxigênio, leito pedregoso, típica para arroios de montanha alta e média; 2 - Região de Timalo (Thymallus thymallus): água clara, menos fria, com relativamente alta concentração de oxigênio, leito arenoso, típico para pequenos rios da montanha média; 3 - Região de Barbo (Barbus barbus): água com substâncias em suspensão, quente, com oxigênio equilibrado, leito areno-lodoso, típico para rios de planície com correnteza; 4 - Região de Brama (Abramis brama): água turva, temperatura elevada, déficit de oxigênio, leito lodoso, típicos para planície com baixa velocidade da corrente.
Ainda segundo Illies (1961), a combinação das diferentes zonações, baseando-se principalmente nas comunidades de peixes, é representada nas seguintes regiões:
1 - Crenal: região da fonte;
2 - Ritral: região do arroio da montanha: - Epi-ritral: zona superior de Trutta, ou semelhantes; - Meta-ritral: zona inferior de Trutta ou semelhantes; - Hipo-ritral: zona de Thymallus ou semelhante;
3 - Potamal: região do rio de planície: - Epi-potamal: zona de Barbus ou semelhante; - Meta-potamal: zona de Abramis ou semelhante; - Hipo-potamal: zona de estuário com comunidade mista.
O balanço térmico exerce uma grande influência na distribuição das comunidades do Ritral e Potamal, evidenciando uma dependência da extensão dessas zonas em um rio conforme latitude e altitude. Portanto, a distribuição do Ritral e Potamal, segundo a latitude e altitude, de Illies (1961) somente pode ser considerada mediante a diferenciação da temperatura da água. Após a temperatura, o segundo fator mais importante é a morfologia do rio, ou seja, a declividade que diretamente influi na velocidade da água e na estruturação do leito. A velocidade da água induz adaptações dos organismos, para que seja evitada a deriva para a região posterior do rio, possibilitando um movimento ativo em uma correnteza tubulenta ou quase laminar.
Um outro exemplo caraterístico de zonação é a zonação vertical das comunidades bênticas, um grande fator que influencia na zonação biogeográfica de algumas comunidades é a estrutura do substrato. Para o benton, o substrato serve como habitat durante todo o ciclo de vida, para as formas pelágicas, a granulometria influencia diretamente na ocorrência dos organismos, como por exemplo os peixes da região Ritral que precisam de substrato áspero para desovar e com abastecimento de oxigênio, além de baixa temperatura e alguma proteção contra a correnteza.. Esta diferenciação ocorre em faixas perpendiculares ao mar e dividem-se em três zonas. As zonas: supra litoral, meso litoral e infra litoral.
Estes três níveis têm em conta as marés e a distribuição dos organismos pelas diferentes zonas, assim como o efeito que as ondas terão sobre os organismos. As espécies pertencentes à zona supra litoral quase não sofrem influência das marés, uma vez que estas só atingem a zona durante as marés vivas. A distribuição pode também ser afetada pela radiação solar. Neste caso, as zonas denominam-se por zonas eufótica, oligofótica e afótica. Na zona eufótica há maior incidência da luz, já na zona afótica não há qualquer luminosidade. Os seres vivos que habitam as zonas eufóticas são normalmente mais coloridos, enquanto aqueles que habitam em grandes profundidades, na zona afótica, normalmente não possuem cor. Além das zonas mencionadas existem muitas outras que demonstram a influência dos diversos fatores (abióticos e bióticos) sobre a distribuição dos seres vivos, sendo que é necessário que possua uma estrutura horizontal.
O GEEFAA - Grupo de Estudos de Ecologia e Fisiologia de Animais Aquáticos, diz que, o ambiente lótico pode apresentar-se perene, mantendo suas características ao longo das estações do ano sempre similares, como os reservatórios que não sofrem grandes inundações. Ou podemos observar o ambiente lótico intermitente, em que há alteração pronunciada de profundidade, ações de chuvas e erosão e modificações topográficas.
Outro tipo de zonação é referente à flora, a vegetação aquática depende fundamentalmente da disponibilidade de substrato para fixar-se e resistir a velocidade da correnteza. Para a vegetação pode-se diferenciar as duas regiões: de erosão e de depósito ou acumulação, que criam habitats completamente diversos. A região do Ritral, ou de erosão, possui uma vegetação aquática que resiste à grande velocidade da água, podendo aproveitar as áreas de água morta para fixação ao substrato. Outra especialização é a fixação por células especializadas na produção de muco. Muitas algas epilíticas possuem adaptações fisiológicas que permitem uma fixação ao substrato, mostrando uma modificação em dependência da velocidade da água e do tamanho das pedras.
No ambiente lótico observamos também a zonação horizontal, que significa a variação de espécies animais e vegetais ao longo do trecho do rio. Na nascente, ou zona de cascata, encontramos maior força da água, que cria certa correnteza, com temperaturas mais baixas, alta concentração de oxigênio e substrato formado por cascalho mais grosso. Nestas regiões há principalmente briófitas e espécies de peixes variam entre predadores e migradores que buscam ambiente reprodutivo adequado. Conforme acompanhamos a descida do rio, o aspecto físico, químico e biológico muda em um contínuo, até a zona de estuário, onde a correnteza é baixa, a temperatura da água se eleva, o oxigênio dissolvido diminui e o substrato é caracterizado pela presença de grãos finos de areia.
Além deste tipo de modificação ao longo do trecho do rio, podemos também notar a zonação vertical, que inclui a sucessão de altitude com alta variabilidade de microclima, vegetação, volume de água, turbidez, pH, nutrientes, espécies animais etc. Já no ambiente lêntico, o volume de água é mais restrito e podemos considerá-los como "ilhas ecológicas". Em lagos, lagoas e charcos não encontramos zonação, porém há estratificação. A biologia dos lagos é principalmente determinada pela profundidade, pelo clima e pela disponibilidade de nutrientes.