MOVIMENTO PRO IVAI PIQUIRI
Este movimento é uma articulação de pessoas e de entidades para a preservação dos Rios Ivaí e Piquiri, contra a construção de barragens e empreendimentos hidroelétricos, que tem como proposta o desenvolvimento sustentável para a região estimulando sistemas agroecológicos, turismo em áreas naturais, fortalecimento das comunidades e promovendo a inclusão social. (Movimento Pró Ivaí/Piquiri).
Um dos motivos fundamentais para manutenção dos rios Ivaí e Piquiri livres de barragens, para além do valor de suas próprias bacias e leitos, com inúmeros habitats, comunidades e espécies e seus valores intrínsecos, é o papel fundamental de ambos para a continuidade dos processos ecológicos do remanescente do rio Paraná (Movimento Pró Ivaí/Piquiri).
Os rios Azul, São Camilo, Santa Fé e Pioneiro, localizados no município de Palotina- PR são afluentes do rio Piquiri, importante local de reprodução de peixes da bacia do Alto Rio Paraná e local de ocorrência de espécies endêmicas, ou seja, aquelas que além desses rios não ocorrem em nenhum outro rio do planeta. A região na qual essas micro-bacias estão localizadas é caracterizada pela intensa atividade agroindustrial (OLIVEIRA et al., 2015), que paralelamente com a expansão urbana contribuem para a fragmentação e alteração de habitats, introdução de espécies não nativas e aporte de altas concentrações de poluentes (DUDGEON et al., 2006).
Neste sentido, fica evidente a vulnerabilidade desses rios frente às alterações antrópicas que já estão estabelecidas ao longo de toda a bacia do rio Piquiri. Deste modo, a implementação de barragens e todas as modificações dos aspectos hidrológicos, físico e químicos que estão associados à sua construção e funcionamento, só intensificariam a degradação destes ambientes e a perda da biodiversidade local. Além disso, em bacias como a do Piquiri, nas quais a ocupação humana é maior e o alagamento envolve áreas agrícolas, os fertilizantes químicos, pesticidas e herbicidas aplicados intensivamente e que ficaram retidos no solo se incorporariam ao ambiente aquático, contribuindo para a deterioração da qualidade da água no seu trecho inferior logo após o enchimento do reservatório (TUNDISI; MATSUMURA-TUNDISI; CALIJURI, 1993).
As barragens também interrompem o gradiente das condições abióticas e processos ecossistêmicos que ocorrem continuamente ao longo do rio, (VANOTTE et al., 1980; WARD; STANFORD, 1983), causando modificações nas assembleias de peixes decorrentes do efeito do bloqueio de migração. As espécies migradoras, conhecidas também como potamódromas, requerem amplos trechos livres da bacia, onde se deslocam por grandes distâncias, principalmente em períodos reprodutivos. A migração exerce papel fundamental no sucesso reprodutivo dos peixes, porque ela permite a busca de ambientes adequados para a fertilização dos ovos (encontro de um elevado número de indivíduos de ambos os sexos), desenvolvimento inicial (elevada oxigenação e disponibilidade alimentar) e condições de baixas taxas de predação (baixa transparência da água) que podem ser encontrados em rios e riachos de pequena ordem e lagoas marginais (AGOSTINHO et al., 2007). O bloqueio do rio e as alterações na distribuição espaço-temporal da vazão interferem na dinâmica reprodutiva dos peixes migradores, pois a retenção da água pelas barragens reduz o pulso de cheias nos trechos inferiores, sendo este um gatilho ambiental importante para estimular o desenvolvimento gonadal e a desova dos organismos (VAZZOLER, 1996). A fragmentação das populações impostas pelos represamentos também tem implicações sobre as espécies migradoras tanto em relação às extinções, bem como sobre a restrição das trocas gênicas, podendo promover a reestruturação genética de tais populações, aumentando assim as taxas de endogamia e tornando-as mais susceptíveis à deriva genética e extinção (ELLSTRAND, 1992).
O rio Piquiri é um dos últimos trechos livres de barragem do rio Paraná, permanecendo sem a influência de represamentos, preservando suas características lóticas originais e sendo uma alternativa para as rotas de migração e desova que possibilitam a manutenção da comunidade aquática. A opção brasileira pela hidroeletricidade e a crescente demanda de energia devem antever que a ocupação de novas bacias hidrográficas ou sub-bacias podem acarretar em perdas irreversíveis para a biodiversidade global (AGOSTINHO et al., 2007). As alterações impostas no funcionamento dos ecossistemas são fenômenos cada vez mais popularmente compreensíveis e a implementação de medidas atenuadoras de impacto é agora uma exigência ética demandada pela sociedade. Neste sentido a construção de barragens vai na contramão no que tange os aspectos de preservação do meio ambiente e da biodiversidade.